A AUTO-EXPERIÊNCIA no INCONSCIENTE PROFUNDO no LIVRO VERMELHO de JUNG
Postado em 03/09/2012

 A AUTO-EXPERIÊNCIA no INCONSCIENTE PROFUNDO no LIVRO VERMELHO de JUNG

A Revista New York Times saúda a publicação de O Livro Vermelho (Liber Novus) como “O Santo Graal do Inconsciente” desafio de interpretar um livro diferente de qualquer outro que Jung escreveu e determinar a sua relevância para os campos da mitologia, psicologia e clássicos, filosofia e religião, história, arte, história e literatura, e porque não dizer a alquimia. 
Para CG Jung, os anos 1912-1913 foram fundamentais e dolorosos.  Tendo tomado o passo corajoso de publicar seu livro Transformações e símbolos da libido, Jung tinha na verdade cortado seus laços com seu mentor, Sigmund Freud.  Cem anos após, com a publicação do Red Book, corta os laços com toda a psicanálise. 
Sem duvida, Jung adentrou-se na estrada sinuosa do inconsciente, como pretendia Freud e era o sonho deste para o futuro quando em 1936 profetizou ao dizer: “No futuro provavelmente dar-se-á uma importância muito maior à psicanálise como CIÊNCIA do INCONSCIENTE do que como procedimento terapêutico”. Podemos complementar com a fala Bergson, 1901 ao afirmar: “Explorar o INCONSCIENTE, trabalhar no subsolo do espírito com métodos especialmente apropriados, tal será a tarefa principal da psicologia do século que começa”. Jung fez isso. Toda a estrada ao inconsciente profundo está sinalizada. Falta agora uma “releitura” como proclamou Lacan em 1053 com relação à Obra de Freud. 
Hoje urge “uma verdadeira releitura” de tudo o que foi escrito e pesquisado sobre o inconsciente. 
Falemos do autor do “Santo Graal do Inconsciente”, mas antes que algum junguiano “ortodoxo” proteste contra esta linha de raciocínio, Jung pareceu já reconhecer a tensão, e disse: "Graças a Deus sou Jung, e não um junguiano".
Nas notas de rodapé escrito por Shamdasani e Jung, incluem referências a Fausto, Keats, Ovídio, a Norse, os deuses Odin e Thor, as divindades egípcias Osíris e Ísis, a deusa grega Hécate, textos gnósticos antigos, hiperbóreos gregos, o rei Herodes, o Antigo Testamento, o Novo Testamento, o Zaratustra de Nietzsche, astrologia, o artista Giacometti e a formulação alquímica do ouro. E isso é só nomear alguns. 
A premissa central do livro, disse Shamdasani, era que Jung tornou-se desiludido com o racionalismo científico, que ele chamou de "o espírito dos tempos", e ao longo de muitos encontros quixotescos com sua própria alma e com outras figuras internas, ele vem para conhecer e apreciar "o espírito das profundezas", um campo que abre espaço para a magia, coincidência e as metáforas mitológicas entregues pelos sonhos. 
“É o reator nuclear para todas as suas obras”, continua Shamdasani, notando que os conceitos mais bem conhecido de Jung, incluindo sua crença de que a humanidade partilha uma piscina de sabedoria antiga, que ele chamou de inconsciente coletivo, de onde faz emergir do subsolo teorias, técnicas, desafios, e uma releitura inédita da espiritualidade humana com “métodos especialmente apropriados” da genialidade de mestre.
O livro é bombástico, barroco, uma singularidade deliberada, sincronizado com uma realidade antediluviana e mística. O texto é denso, muitas vezes poético, e sempre estranho. 
Em 1959, depois de ter deixado o livro mais ou menos intacto por 30 anos ou mais, ele escreveu um breve epílogo, reconhecendo o dilema central em considerar o destino do livro. "Para o observador superficial", escreveu ele, "ela vai aparecer como loucura." No entanto, o próprio fato de ele ter escrito um epílogo parece indicar que ele confiou em suas palavras que um dia iria encontrar o público certo.
Não é estranho constatar que no Brasil ainda ninguém se atreveu a “estudar” o livro. Apenas comentam como sendo obra de alguém que esteve no limite da esquizofrenia, num momento de dor emocional, uma obra poética mística, etc.. Sem duvida, ainda não chegou ao “publico certo”.
Sonu Shamdasani, editor geral da fundação Philemon, tentou e decodificar o Livro Vermelho - um processo que ele diz que precisou de mais de cinco anos de trabalho concentrado. Disse “Desta forma, temos como propósito fazer uma incursão, ainda que breve, por algumas dessas imagens a fim de nos aproximarmos da função criadora de mitos da psique”.
A obra, escrita em alemão arcaico, é intercalada por imagens criadas pelo próprio psicanalista. "Minha linguagem é imperfeita. Não que eu queira brilhar com palavras, mas por incapacidade de encontrar aquelas palavras é que falo em imagem. Pois não posso pronunciar de outro modo as palavras da profundeza", escreve Jung.
No meu ver e no curso de “Releitura das Teorias e Técnicas de Jung através do Livro Vermelho”, que está acontecendo no auditório da Microtécnica, W3, Brasília, todos os últimos sábados de cada mês, encontramos: 
1-Uma linha inédita de unificação das religiões, desde a antiguidade, perpassando pela Bíblia toda, até os dias de hoje. 
2-Uma trilha genuína da verdadeira Alquimia para nosso tempo, tão necessária para o anseio de mudanças, transformações e transmutações da Obra do Ser Humano (Opus Magnus).
3-Uma teorização da verdadeira terapia analítica capaz de devolver ao ser humano a possibilidade de equilíbrio e normalidade. 
4-Uma compreensão profunda do ser humano com a visão tridimensional do físico, mental e espiritual. 
5-Uma analise prospectiva, futurista, da humanidade neste terceiro milênio. 
Podemos afirmar, sem duvidas, que o estudo sério, desapaixonado e hermenêutico da Auto experimentação realizada por Jung e plasmada neste livro, somado à síntese com todo o cabedal de conhecimento que já foi emerso do inconsciente profundo, será a premissa maior do silogismo necessário para estabelecer as bases de uma nova ciência, a Ciência do Inconsciente. 
Prof. Dionisio Fleitas Maidana
Filósofo – Psicanalista - Teólogo

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